12 junho, 2006

Entrevista de Primeira


O entrevistado desta edição do Entrevista de Primeira é o maior tocador de oito baixos da região, Biu Marcelino nascido no Sítio Machado, em 9 de janeiro de 1920, hoje com seus 86 anos, toca melhor a cada dia, sempre treinando, para assim se aperfeiçoar, e nunca ficar para trás.

Ele que sempre é requisitado nos arraiás da região além de ser a marca registrada das quadrilhas santa-cruzenses. Quando se escuta o carro de som anunciar “Puxa o fole Ti Biu” já se tem a idéia que mais uma quadrilha daquelas vem por aí.

GILBERTO – Como começou sua ligação com a música? Por que os 8 baixos, houve a influência de alguém?

BIU MARCELINO – Com 15 anos comecei a dar os primeiros passos nos 8 baixos, hoje tenho 75 anos de tocada. Tinha um irmão chamado José Marcelino que tocava muito bem, eu “arreparava”, achava bonito, e comecei a aprender, e toco meus 8 baixos até hoje, sei tocar sanfona, mas nada se compara aos 8 baixos.

GILBERTO – Como o senhor vê a relação do forró de ontem e o forró de hoje?

BIU – É muito diferente, antes era de verdade, pra mim acabou-se o forró. No tempo em que comecei era bom, era o forró de verdade, onde os tocadores tocavam com a alma de verdade.

GILBERTO – Qual a maneira que Biu Marcelino se sustenta financeiramente após o período junino?

BIU – Eu sempre fico tocando, aqui, acolá uma dançinha, sempre toco no sítio Caldeirão, no Olho d’Água, nunca paro, sempre estou com meus 8 baixos, é meu instrumento de trabalho tanto no são joão, quanto no resto do ano.

GILBERTO – O senhor acha que tem um verdadeiro reconhecimento da população?

BIU – Tenho, a tropa dá valor, sou sempre reconhecido nos forró por onde passo. E também sempre fazem reportagens comigo, sempre nessa época sou procurado pra falar alguma coisa.

GILBERTO – Como é a relação de amizade dos tocadores da região?

BIU – Nesse meio tenho muitos amigos, tinha o Leninho, mais agora ele é evangélico e não toca mais, mas quando tocava era o melhor de Santa Cruz. Tinha o Dedé Sanfoneiro, que já faleceu, ele era muito meu amigo. Hoje tem o Zuza de Mandassaia que é um bom tocador, entre outros, a tropa é muito unida.

GILBERTO – O que o senhor sente tocando nesses arraiais da vida?

BIU – È muito bom, sinto-me realizado, pois, o público é fiel e sempre tem muita gente nos assistindo, e isso faz que a cada dia a vontade de tocar aumente.

GILBERTO – Com que freqüência o senhor treina nos seus 8 baixos? E sanfona, o senhor toca?

BIU – Há, todo dia tem que treinar, todo dia eu pego nos meus 8 baixos, pois sempre tem uma “parte” que a gente quer aprender e se não pegar todo o dia a gente não aprende. Para se ter uma idéia, se passar uma semana sem tocar, a gente acaba se esquecendo.

Também toco um pouco de sanfona, mas o que realmente gosto é dos meus 8 baixos, é minha verdaqdeira paixão.

GILBERTO – Para o senhor qual o mais difícil, os 8 baixos ou uma sanfona?

BIU Nem se compara, os 8 baixos são bem mais difíceis, a sanfona é fácil é um tom só, nos 8 baixos, são 2 tons, abrindo é um, e fechando é outro. Nos 8 baixos é preciso sempre sacolejar para acudir o chamado, é muito difícil conjugar um com o outro, tem tocador que só bole num lado dos 8 baixos e pensa que sabe demais.

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