26 março, 2007

Fotojornalismo: crise ou adaptação às novas tecnologias?

Diagramação dos jornais, redações cada vez mais enxutas, fotos – de alta resolução – tiradas de celulares sendo publicadas. Esses são alguns dos problemas apontados pelos repórteres fotográficos, desafios que encontram no trabalho. Recentemente, uma exposição ocorrida em São Paulo levantou um debate sobre uma possível crise no fotojornalismo. Mas o fotojornalismo está mesmo em crise ou apenas em fase de adaptação às novas tecnologias? Ou ainda, não será a mídia em geral que está passando por uma crise?

A exposição “Fotojornalismo 2006 - Fatos e Histórias do Cotidiano” foi organizada pela Arfoc-SP (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo) no Centro Cultural São Paulo, em janeiro deste ano. Foram cerca de 100 trabalhos de 83 repórteres fotográficos que reportavam a Copa do Mundo, os ataques do PCC, eleições, rebeliões, manifestações, conflitos no Iraque e no Haiti, dentre outras cenas do cotidiano.

Crítica
O jornalista Éder Chiodetto, colaborador da Folha de S. Paulo, onde foi repórter fotográfico por quatro anos e editor de fotografia por nove, publicou uma crítica afirmando que a exposição era sintomática de uma crise que prova que “é notória a busca desenfreada pelo impacto por meio de ângulos inusitados, planos distorcidos e uso de cores primárias”. Em entrevista ao Comunique-se, Chiodetto explica que, desde que as fotos do interior dos jornais passaram a ser coloridas (devido aos anunciantes exigirem as fotos de seus produtos em cores), os repórteres fotográficos têm procurado aproximar a qualidade de suas fotografias documentais às publicitárias.

“A foto publicitária é feita da forma mais perfeita possível, dentro dos padrões máximos de qualidade. Aí, do lado, tem uma foto jornalística, feita em condições reais. Há um certo rigor na foto documental. A qualidade dela é isso. Ela não chega aos pés da publicitária e nem deve chegar. [É um mal] a estetização exagerada. Você deixa de relatar e passa a fantasiar a notícia”, afirma Chiodetto.

Hélio Campos Mello, que também já foi repórter fotográfico e editor de fotografia e passou por veículos como Estadão, IstoÉ e Veja (atualmente está na Revista Brasileiros, em fase de projeto), não acha que haja uma “tendência à publicidade” no fotojornalismo. “O que há é uma busca de eficiência para agradar ao máximo ao cliente do jornal, o leitor. A função do fotojornalismo é olhar e reportar com eficiência o que está acontecendo e o fotojornalismo brasileiro cumpre isso bem”, declara o jornalista.

O presidente da Arfoc, Rubens Chiri, publicou uma ‘réplica’ ao artigo de Éder Chiodetto na Folha e também textos no site da Associação. Para ele, é um equívoco dizer que o fotojornalismo se aproxima cada vez mais da publicidade. “Há sim imagens que contam os fatos e ainda assim têm impacto estético, e o mais importante, comprometidas com os princípios éticos que permeiam o jornalismo. Se essa imagem venderá mais jornal ou não, é conseqüência, e não objetivo primordial, ao menos para os repórteres fotográficos”.

Nas próximas matérias sobre Fotojornalismo, o Comunique-se vai tratar do espaço que os fotorrepórteres têm para publicar seus trabalhos e também da publicação de fotos enviadas por amadores.


fonte: Comunique-se

http://www.comunique-se.com.br

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